Redução da jornada e até trabalho remoto passaram a fazer parte do dia a dia dos trabalhadores brasileiros
Por Sara Gomes
Sair todos os dias, nas primeiras horas da manhã, pegar a condução – muitas vezes, mais de uma –, chegar ao local de trabalho, registrar o ponto e iniciar mais uma jornada que seguia das 8h às 12h e das 13h às 17h. Essa era a rotina de Juliana Passos até o início da pandemia ocasionada pelo novo coronavírus, que tomou conta do Brasil. Ao perceber os riscos que os funcionários corriam e em atenção aos órgãos de saúde e às recomendações municipais, a empresa onde ela trabalha decidiu assumir uma nova modalidade: o home office.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNDA COVID-19), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que, em setembro deste ano, cerca de 10,8% dos trabalhadores brasileiros passaram a viver a realidade do trabalho realizado de casa, o que representa cerca de 8,3 milhões de pessoas.
Desafios encontrados no home office
“No início foi muito complicado, porque as pessoas que atendo, a princípio, não entendiam que eu não tinha como mudar os acontecimentos”, conta Juliana, que trabalha há 13 anos na mesma empresa e há três anos na função de auxiliar de escritório.
Enquanto Juliana passou a desenvolver o trabalho remotamente, em outras empresas, além do home office, foram adotadas outras estratégias para tentar driblar a contaminação pelo vírus que já provocou a morte de mais de 190 mil brasileiros. Entre essas estratégias estão a mudança no horário de chegada e saída dos funcionários, para evitar que tenham contato com um número maior de pessoas nos transportes públicos, e a adoção de itens de limpeza, como tapetes sanitizantes, uso constante de álcool em gel e máscaras.
Assim como Juliana, Camila de Jesus dos Santos, de 24 anos, também viu a rotina de trabalho mudar completamente. Jornalista, Camila está habituada a entrevistar pessoalmente inúmeras pessoas. Com a pandemia, esse contato físico se tornou impossível, e ela precisou recriar a modalidade das entrevistas: foi então que os aparatos tecnológicos, como celular, computador e aplicativos de mensagens, se tornaram grandes aliados.
Mas, ainda assim, quem disse que o trabalho ficou mais fácil? “As duas maiores dificuldades que eu tive foram a falta de contato com as pessoas e o barulho da vizinhança. Acredito que, pela profissão, o convívio no dia a dia com outros e as pautas externas fizeram bastante falta, e ainda fazem, na verdade. Quanto ao barulho da vizinhança, durante esse período, infelizmente as pessoas esqueceram que outras estavam em suas casas trabalhando ou, por vezes, enfermas também, e exageraram nas festas: sim, as pessoas, no local onde eu moro, não respeitaram 100% o isolamento”, revela Camila.
Esse novo contexto de trabalho para milhares de pessoas em todo o Brasil é muito observado pela pedagoga Maria Bernardete Cardoso Gomes, vice-diretora de uma escola particular.

O ensino no tempo de pandemia
Com a pandemia, o modo de ensinar também sofreu alterações, e as aulas passaram a ocorrer através de videoconferências. Mas como ficam os professores? “A nossa orientação é que eles sigam todas as recomendações de saúde, do Ministério da Educação e as didático-pedagógicas implementadas através da resolução do Conselho Estadual de Educação. Os nossos professores realmente precisaram ter a carga horária reduzida, já que não é permitido que os alunos permaneçam muito tempo no ambiente digital. Esse é um desafio para os professores, como funcionários, mas também para toda a sociedade de um modo geral”, afirma.
De fato, a reorganização na rotina é um constante desafio para todos. “Acredito que o trabalho remoto pode se adequar a algumas profissões, mas a outras não. Pode ser uma tendência para os próximos anos, em virtude da necessidade de reduzir o contato das pessoas devido à Covid-19”, afirma Camila.
Disciplina
A pequena palavra apontada neste intertítulo diz muito sobre as mudanças que foram empregadas neste período de pandemia, no que tange à rotina de trabalho. Para quem precisou exercer a função na modalidade home office, por exemplo, estabelecer a disciplina na rotina é fundamental. Uma pesquisa encomendada pela Microsoft e aplicada pela Harris (empresa de análises), que entrevistou seis mil pessoas em oito países do mundo, inclusive o Brasil, mostrou que 33% das pessoas que passaram ao trabalho remoto têm dificuldades em separar a vida profissional da vida pessoal.
Juliana, personagem que abre esta matéria, é mãe de dois filhos: o João Miguel e a Maria Júlia, de 6 e de 1 ano, respectivamente. “Foi um pouquinho complicado fazer as crianças entenderem que, naquele momento, eu precisava parar para trabalhar, pois eles são muito pequenos e não entendem. Mas, graças a Deus, eu consegui”, afirma.
Outra questão relacionada à disciplina é a carga horária. De modo geral, os funcionários chegam e saem das empresas nos horários acordados. Já para quem precisa trabalhar em casa, esse horário pode acabar sofrendo modificações, o que pode prejudicar tanto o trabalhador, quanto o trabalho e as relações familiares.
Para quem está vivendo essa nova realidade de redução da carga horária ou do trabalho remoto, vale a pena anotar algumas dicas:
Jornada de trabalho: adote mecanismos de controle da jornada de trabalho, criando rotinas como se estivesse no ambiente físico da empresa. Tenha horários para o início, descanso e finalização das atividades;
Ergonomia: tenha em mente que é necessário cuidar das condições físicas e psicológicas para o desenvolvimento das atividades – isso inclui mobiliário e equipamentos, além de organização, tempo demandado e ritmo. Cuidados simples evitam doenças físicas e mentais.
Ética: para quem está em home office, o cuidado com os dados da empresa armazenados se torna ainda maior. Além disso, a ética se estende, ainda, para o ambiente familiar: respeite a privacidade da sua família para que informações pessoais não se tornem conhecidas por terceiros.
Sara Gomes é jornalista e possui especialização em Jornalismo e Convergência Midiática. Gosta de estar com a família, com os amigos e na Igreja. A leitura e a escrita fazem parte do seu dia a dia e ajudam a refletir sobre as mais diversas maneiras de enxergar o mundo.