6º Domingo do Tempo Comum
Evangelho: Marcos 1,40-45
Por Padre Guilherme Schmidt
Amadas famílias! Que o Senhor encontre nossos corações com sua Palavra, nos dê a sabedoria para interpretá-la e a graça de vivê-la com alegre comprometimento.
No domingo passado, o evangelho trouxe uma grande motivação para que em nossos lares haja amor e cuidado generoso para com aqueles que se encontram enfermos. Hoje, a Palavra nos move a agir com compaixão, a exemplo de Jesus.
Na cena de hoje há um leproso que se aproxima de Jesus, ajoelha-se e pede a cura, na certeza de que Ele tem o poder para tal ação. É interessante notarmos que o leproso diz a Jesus: “Se queres”, como que disposto a aceitar caso a vontade de Jesus fosse outra a seu respeito. Movido pela compaixão, Jesus também se aproxima do leproso, estende-lhe a mão, toca-o e afirma: “Eu quero”! A vontade de Jesus é a de que este homem seja curado e tenha sua dignidade restabelecida, voltando ao convívio dos seus e à sua prática religiosa.
Que a compaixão e o querer benevolente do Senhor nos ajudem a curar os corações feridos em família!
Nossas “lepras” em família
Quando a Palavra nos recorda a existência desta triste doença que é a lepra, também nos recorda tudo o que nela está implícito: sofrimento, dor, desfiguração, exclusão, rejeição, preconceito e solidão. Sentimentos que podem estar dentro de nós e de nossas casas, inflamados pelas lepras do nosso tempo. Muitas vezes nos ferimos na vida familiar com palavras e atitudes, machucando, excluindo e lançando o outro na solidão.
Pelos relatos bíblicos, sabemos que os leprosos deveriam ficar para fora dos muros das cidades, vivendo em colônias de pessoas marginalizadas, rotuladas como impuras, sem direito a receber carinho ou misericórdia de ninguém.
Em família, quantas vezes e de quantas formas criamos muros em nossos corações, afastando o outro por discordarmos de suas escolhas? Quantas vezes nós permitimos que alguém muito amado saísse de nossa casa e fosse viver em uma colônia de excluídos por culpa das nossas vaidades e da falta de empatia? Quantas vezes rotulamos as pessoas como erradas e pecadoras, porque nos julgamos certos e santos demais para acolhê-las, apenas pelo fato do seu pecado ser diferente do nosso?
Como sacerdote, muitas pessoas recorrem a mim para falar de suas lepras em família. Aqui trago especialmente o drama que atinge as famílias nos casos de alcoolismo, dependência química e homossexualidade. É triste quando um casamento se desfaz porque falta paciência para ajudar quem está no vício das bebidas. É doloroso quando pais e mães desistem dos filhos por não conseguirem os tirar do caminho das drogas. É cruel demais quando pais e mães rejeitam seus filhos por causa de sua orientação sexual, mesmo sabendo que, em muitos casos, são as únicas pessoas com as quais eles poderiam contar e de quem esperam todo amor e proteção.

Em família, queremos ser curados
Jesus diz às nossas famílias: “Eu quero: fica curado!” Ele quer curar o nosso coração de toda dor e sofrimento, de toda culpa e rejeição, de todos os muros erguidos para afastar o outro que pensa, age e vive de modo diferente, com suas fragilidades que, muitas vezes, são também pedidos de socorro e atenção.
Está faltando em nossos lares muito das atitudes de Jesus: compaixão, estender a mão, tocar, dizer ao outro o quanto nos queremos bem.
Todos os lares têm as suas lepras que causam afastamentos dolorosos. Como famílias cristãs, nossa missão primordial é a de acolher e compreender. Não podemos consertar tudo e todos à nossa imagem e semelhança. Importa que nos esforcemos para viver o amor autêntico, que acolhe, respeita e integra o outro, sobretudo com suas fraquezas.
Que Jesus nos ajude a rever nosso jeito de ser família, vencendo o egoísmo e o preconceito que exclui e ergue muros. Que a força do amor nos mova a construir pontes, favorecendo o encontro e a paz em nossas casas! E que ninguém seja rejeitado por ser diferente, pois Deus ama a cada um de um modo especial!
Não é o tempo, e sim o amor que cura todas as feridas!
Padre Guilherme Schmidt é pároco da Paróquia São Patrício, em Itaqui (RS). Graduado em Filosofia e Teologia, pós-graduado em Bioética e Pastoral da Saúde e em Mediação e Acompanhamento Pastoral de Famílias. Gosta de chimarrão, de ler e de escrever como forma de estar em paz e de expressar seus sentimentos.