Qual impacto minha presença está causando no mundo?
Por Rodrigo B. Simões
Depende. Podemos desenvolver uma crença infantil de que, pelo simples fato de termos entrado em um novo ano, as coisas tendem a se renovar e dar certo por conta própria. Desejar que o ano seja produtivo, positivo e agradável é válido, mas, se quisermos que ele realmente o seja, precisamos entender que a maior parte da responsabilidade para que isso se realize é nossa! Claro que valorizamos a presença de Deus, e Ele realmente faz parte dessa equação, mas certamente não fará a nossa parte.
O hoje é o fruto da soma das escolhas passadas; portanto, se quisermos um presente produtivo e um futuro positivo, precisamos escolher com consciente responsabilidade, no agora. E não adianta reclamar! Isso é fato.
Claro que alguns acontecimentos fogem ao nosso controle, são desagradáveis e nos impõem grandes desafios. Mas, mesmo nesse caso, temos liberdade para escolher qual sentido vamos dar para os acidentes no meio do caminho, os desvios de rota: nós os veremos como uma desgraça ou uma oportunidade de evolução?
O psiquiatra Viktor Frankl nos ajuda a organizar nossa trajetória neste ano, quando ensina três caminhos para dar sentido à vida. Primeiro, o trabalho e a transformação do mundo mediante a tarefa. Segundo, o acolhimento de experiências da beleza, da natureza ou da arte e dos afetos. E, terceiro, escolher uma atitude digna para enfrentar um sofrimento inevitável.
No primeiro caminho, somos provocados ao engajamento em algum trabalho, serviço ou atividade, que deixe uma marca positiva na realidade, através de uma transformação. Vale pensar qual herança eu deixarei após minha partida. Não estamos falando de bens materiais, mas de ensinamentos e exemplos. Pergunte-se: minha presença tem algum impacto positivo na vida das pessoas e no mundo, mesmo que seja ínfimo? Estamos nos referindo à criatividade positiva.

No segundo caminho, somos convidados a desenvolver a capacidade de apreciação e gratidão pelo belo. Há beleza, encanto, novidade, aprendizado em cada nova experiência ou na rotina da vida; nos relacionamentos, afetos e pessoas; nos animais e plantas, no sol e na lua; nas pinturas e esculturas, que contam histórias e estórias e condensam sentimentos. A criança olha para cada detalhe e admira como se fosse pela primeira vez. Não podemos perder essa atitude. Viver é saborear a riqueza da existência em suas diversas versões.
Por último, como adultos, precisamos compreender que o homem desconhece seus limites e sua fortaleza até que a vida o force a prová-los. Fazemos isso através de três circunstâncias: o sofrimento, a culpa e a morte. Ninguém escapa dessa tríade. O desafio é transformar o sofrimento em oferenda – e aqui entra toda a mística do cristianismo –; a culpa, em mudança de atitudes; e a morte, em estímulo constante para uma vida responsável no momento presente. Profundo, não? Com certeza!
Retornamos ao início: ano novo, vida nova? Depende de nós! Pais, amigos, marido, mulher, irmãos de comunidade e caminhada podem ser colaboradores, mas o sujeito principal da nossa vida somos nós mesmos. Não dá para fugir ou tentar burlar essa realidade.
Rodrigo Simões é sacerdote há dezessete anos. Psicólogo especializado em atendimento clínico, pela abordagem da Terapia Cognitivo Comportamental e fundador do Espaço Terapêutico Coração Jovem. Apaixonado pelo desenvolvimento do ser humano, orquídeas a cachorros, vê na natureza as impressões digitais do Criador.